A linha e o sujeito: um diálogo com o acervo da Caixa

GRAÇA RAMOS, 2009

Texto do folder de exposição realizada na Caixa Cultural em Brasília
Descubra o desejo / descarte o medo, 2009

Quem e o que emergem das linhas que compõem a obra de arte? A pergunta pode orientar a leitura desta exposição, realizada a partir do diálogo entre um recorte do acervo da Caixa Econômica Federal e a produção mais recente do artista Chico Amaral. Nas obras apresentadas, o efeito proporcionado pelo traço contínuo ou descontínuo, real ou virtual, evoca tema recorrente da estética: a discussão sobre a reconfiguração do sujeito na arte contemporânea.

Contemplar obras do acervo que exploram a cominação de linhas situa o público diante de exercícios centrados em poética geometria, demarca a autoria e alude à separação entre aquele que cria, a obra o espectador. Modos de ser e estar que remetem à noção mais estável de identidade. A tensão entre criador, observador e objeto visto produz distanciamento e eleva o potencial autorreferente de certo fazer artístico.

Situam-se no campo das concepções modernistas, trabalhos de Abelardo Zaluar, Aluísio Carvão, Amilcar de Castro, Anna Letycia, Arthur Piza, Bené Fonteles, Dionísio Del Santo, Emanuel Nassar, Fayga Ostrower, Fausto, Franz Krajcberg, Leon Ferrari, Luiz Baravelli, Maria Bonomi, Maria Leontina, Nicolas Vlavianos, Renina Katz, Tomie Ohtake e Wilson Alves.

Suas gravuras, esculturas e pinturas debruçam-se sobre elementos intrínsecos à arte – cores, planos, volumes e, em especial, linhas. Celebram o domínio formal da técnica e recusam a tactibilidade. Reivindicam o olhar como sentido primordial, privilegiam a observação e situam o espectador em posição mediada por convenções e signos inerentes à atividade artística.

Ao conversar com o acervo, Chico Amaral realizou obras que alteram e redefinem o estatuto das coisas. Sua estratégia é a de armar jogos, criar espaços e construir geografias em que modos da operação artística se refazem. Ele também enfatiza o uso de linhas, que precisam ser completadas – real, imaginária e virtualmente ­– por cada um que se disponha a participar da construção desse mapa substantivo de medos e desejos. No uso da tecnologia contemporânea, a informática, e do suporte mais antigo, o papel. Chico Amaral incentiva a expressão de um indivíduo mais corporificado, que também se quer obra de arte.

Artista e público intrometem-se na construção da obra. Um se situa em relação ao outro para se constituírem sujeitos. Sinal dos tempos, eles são representantes de época reivindicadora de interatividades impulsionadas pelas tecnologias avançadas de comunicação, que redesenham inúmeras possibilidades para o vir-a-ser.

No diálogo proposto, identidades deslocam-se. Quem é o artista? Que papel desempenha o público? Qual o lugar do objeto? Indagações a serem respondidas por aqueles que jogam.

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